Diferencial da Fonoaudiologia em UTI e/ou Hospitais Neonatais

Trabalhos realizados em UTI e alojamentos:

- Orientação sobre a importância da amamentação na nutrição, no desenvolvimento orofacial, emocional, fala e linguagem;

- Orientação e posicionamento do bebê com fissura, síndromes e outras deformidades;

- Perigos da alimentação artificial;

- Orientar na posição da mãe e do bebê e a pega adequada no seio materno, como amamentar, quantidade, horário, posicionamento após mamada, planejamento familiar, como manter a lactação e extração do leite em mães com bebês internados em UTI;

- Técnica do uso do copinho;, técnica da sonda de dedo;

- Palestras informativas para mães sobre mitos e tabus na amamentação;

- Palestras informativas para a equipe do hospital/UTI, sobre o efeito do ruído e estres nos bebês;

- Triagem auditiva dos bebês na alta hospitalar e encaminhamento para o teste da orelhinha.

- Favorecer a transição da sonda de alimentação gástrica para via oral em um período mais curto, com ganho de peso eficiente (estimulação sensório-motora-ora), Benefícios dessa estimulação: maior ganho de peso, controle dos estados de alerta, aceleração da manutenção do reflexo de sucção, aumento do trânsito gastrointestinal, alta hospitalar precoce e, consequentemente, diminuição do custo de internação.

Fonoaudiologia Neonatal

Estudos apontam que o RNPT apresenta características peculiares que precisam ser conhecidas pelos profissionais que atuam com uma categoria tão especial. O tônus apresenta-se rebaixado, que varia desde uma flacidez intensa com extensão até a presença de tônus elevado e flexão iniciada pelos membros inferiores. Ocorre uma hipotonia global originada pela imaturidade do Sistema Nervoso Central (SNC) e muscular. O RNPT é ainda um bebê genuinamente em extensão com pobre estabilidade de cintura escapular, tronco e mandíbula, esta última devido à ausência de almofadas de gordura nas bochechas. Apresenta dificuldade de vedamento de lábios, fato esse que geralmente está relacionado a freqüente necessidade de ventilação mecânica por tubo endotraqueal. E finalmente, é um bebê neurologicamente imaturo e desorganizado que apresenta poucos sinais de sede e fome, ausência de alguns reflexos e grande susceptibilidade ao estresse.

O aleitamento materno, antes considerado um ato natural e fisiológico, tornou-se nos dias atuais um dever de estado e direito do cidadão, haja vista que, consagrado pela constituição brasileira de 1988 como "ato não só de amor e sim de cidadania", tal ação alcançou um movimento internacional para resgatar a "cultura da amamentação". Segundo TOMMA (1998) "para otimizar a saúde e a nutrição materno-infantil todas as mulheres devem estar capacitadas a praticar a amamentação exclusiva pelo menos até o 6 º mês de vida".

A atuação fonoaudiológica em berçários normais, berçários de risco, e em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatais, corresponde a um importante e novo campo da Fonoaudiologia, em que a atuação está voltada para os recém-nascidos (RN) normais (RN de termo - RNT) e de risco (RN pré-termo - RNPT, baixo peso - RNBP, pequenos para a idade gestacional - RNPIG, RN portadores de patologias específicas com comprometimento do sistema sensório-motor-oral - SSMO).

Uma das possibilidades de atuação do fonoaudiólogo no período neonatal relaciona-se à alimentação dos RN normais e de risco, uma vez que, nos primeiros meses de vida, o RN obtém o alimento através da sucção. Essa atuação visa ao diagnóstico e ao tratamento precoce das alterações fonoaudiológicas, prevenindo, minimizando ou adaptando seus efeitos.

A alimentação é um pré-requisito para a sobrevivência do RN; visa ao suprimento das necessidades nutricionais e, conseqüentemente, ao crescimento e ao desenvolvimento adequados, pois a amamentação proporciona a interrelação estrutura/função, levando ao crescimento harmonioso da face, o bebê veda os lábios e respira pelo nariz. Além disso, tem papel na formação do vínculo mãe-bebê.

Para a obtenção de uma fala correta e eficiente, nossos órgãos fonoarticulatórios necessitam trabalhar e atuar de forma equilibrada; o papel da amamentação para esse equilíbrio miofuncional é fundamental. A prevenção dos distúrbios oro-mio-funcionais começa na amamentação. É neste momento que os órgãos fonoarticulatórios são altamente estimulados.

O conhecimento do padrão de sucção dos recém-nascidos tem grande importância, uma vez que nos primeiros meses de vida essa função é responsável pela nutrição do recém-nascido e pelo desenvolvimento do sistema sensório-motor-oral. Para que a sucção ocorra de forma coordenada e harmônica, com ritmo, força e sustentação para realizar a extração e a condução do leite, é necessário, entre outros fatores: reflexo de procura e de sucção, vedamento labial, movimento adequado de língua e mandíbula, ritmo e coordenação sucção-deglutição-respiração. As dificuldades na sucção devem ser eliminadas ou minimizadas através de intervenção fonoaudiológica nos primeiros dias de vida, o que refletirá no sucesso do aleitamento materno e adequado desenvolvimento do sistema sensório-motor-oral.

Nos RNPT, que ainda não recebem o alimento por via oral, essa intervenção inicia-se após a estabilidade clínica e normalmente ocorre através da estimulação da SNN.

Para os RNs que já recebem o alimento por via oral, tal intervenção deve ser realizada nos primeiros dias de vida, que parecem ser críticos para a manutenção do aleitamento materno. Isso ocorre porque os RNs com diferenciações no padrão de sucção podem apresentar dificuldades ao sugar o seio materno, as quais, associadas às inseguranças maternas ("leite fraco", escasso, dor), acabam levando ao desmame, uma vez que as mães acham que muitas das dificuldades que o RN apresentava no aleitamento materno são, de certa forma, minimizadas com a mamadeira. Na mamadeira, as mães se certificam da quantidade de leite que o RN mamou (podem visualizar o volume sendo esvaziado) e acreditam que as dificuldades apresentadas pelo RN no seio materno deixam de existir. Na verdade, algumas das dificuldades que o RN apresentava no seio materno podem ser mascaradas na mamadeira, como, por exemplo, na mamadeira, mesmo em estado de sonolência, alguns RN conseguem mamar, já no seio materno é preciso adequar o estado de consciência do RN. Além disso, os RN mamam mais rapidamente na mamadeira do que no seio materno.

Na mamadeira, o movimento realizado pela língua, lábios, mandíbula se difere do movimento realizado no seio materno, uma vez que a textura e a forma dos bicos são diferentes. Esse movimento se difere mais ainda quando o furo do bico da mamadeira é aumentado. Nesse caso, o RN precisa mover inadequadamente sua língua na tentativa de conter o fluxo de leite. Além disso, aumenta a chance de aspiração e das otites, já que ele não é capaz de deglutir todo o leite que se encontra na cavidade oral. Outra conseqüência é a instalação do hábito da sucção de chupeta ou dedo, pois esse RN, que praticamente não suga, não satisfaz sua necessidade de sugar e adquire tais hábitos. As conseqüências serão desastrosas para o crescimento das estruturas anatômicas da boca e para a articulação dos sons da fala.

Devido à importância da função de sucção para os RN, é fundamental, para todos os profissionais que atuam com essa faixa etária, conhecer e compreender o mecanismo de sucção. Eles devem estar atentos para qualquer aspecto indicativo de alteração na alimentação relacionada à função de sucção, solicitando sempre uma avaliação fonoaudiológica. Dessa forma, a detecção e a intervenção precoces podem ser realizadas, propiciando o adequado desenvolvimento motor oral.

Do ponto de vista odontológico, entre os benefícios citados na literatura em favor do aleitamento materno exclusivo destacam-se os efeitos positivos sobre o desenvolvimento da cavidade bucal da criança, a redução da necessidade de intervenção ortodôntica, menor incidência com ronco e apneia, mordida cruzada, carie e infecções de vias aéreas. Estudos mais recentes demonstram que as mamadeiras, chupetas assim como outros bicos artificiais podem ser nocivos por transmitirem infecções, por reduzirem o tempo gasto sugando no peito, interferir na amamentação sob livre demanda e, possivelmente alterar a dinâmica oral.

Dra. Isa Keila do Amaral Vieira Peixoto da Silva

Pediatra